É difícil ser espontâneo no mundo corporativo

No mundo corporativo se expressar tornou-se complicado, temos que medir nossas palavras, avaliar como elas irão repercutir, quem poderá ser afetado ou se sentir afetado.

 Em resumo, o mundo corporativo tirou a espontaneidade, um “input” fundamental para descobrir e entender as distorções, captar novas idéias, inovações.

Tenho um amigo que joga futebol, admiro sua capacidade de cativar um cliente, excelente no relacionamento, ótimo profissional, outro dia em uma reunião ele comentou:

"você joga em um time, reclama com o outro jogador o cara fica bravo, sentido, mas no final, o objetivo é o mesmo, ganhar o jogo, não dá tempo de medir as palavras".

A verdade é que não importa se o que será dito está certo ou errado, isso somente poderá ser julgado depois de falado, o importante é que se fale e que se escute, sem a necessitada de autodefesa.

Não estou abordando “discussões” e sim feedback, aquelas situações em que estamos apenas mostrando como enxergamos.

Aprendi com um gerente que tive, hoje um amigo que admiro, que levava a equipe "tomar um chopinho", lá ele espertamente "coletava" suas informações, ele se misturava, deixava de ser "chefe".

O que vi é que nesse momento as pessoas se soltavam, confidenciavam, e o fundamental, confiavam que ele aceitaria o que seria dito, sem represálias, ele nunca se confrontava, era esperto, usava, poucas vezes se justificava, não era o objetivo justificar, lá ele não liderava, ele conduzia.

A espontaneidade é fundamental, sem ela o que temos é um teatro, mas em geral nós somos os principais culpados pela falta dela, através de atitudes e ações que inibem, tiramos das pessoas e colaboradores essa virtude, fazemos o mesmo com as crianças, adequando elas a nossa forma de vida.

No caso das crianças, para elas pouco importa a forma ou jeito, elas se comunicam diretamente, pois é o principal recurso para serem entendidas e, de fato, enquanto são pequenas, achamos isso perfeito, incentivamos.

Fazendo um paralelo entre espontaneidade e criatividade, um jornal americano fez a seguinte pergunta: em um balão no meio do oceano havia 3 pessoas, advogando, o presidente americano e o Papa, o balão está caindo e para que 2 se salvassem um teria que pular, quem deveria ser o escolhido?

Sobre isso houve inúmeras teorias, como advogados não são muito queridos, você pode imaginar que ele sempre era o escolhido, já os contrários à religião, votaram pelo Papa, ai vem os comunistas, escolhendo o presidente americano.

O vencedor foi uma criança, simplesmente respondeu: “o mais gordo”. 

Com o tempo, as crianças vão sendo influências pela sociedade, religião, escola e essa espontaneidade se perde.

O mesmo ocorre no mundo corporativo, entramos em uma empresa, empolgados, colaborativos, mas à medida que vamos conhecendo as pessoas e que nossas posições e sugestões são tratadas, vamos nos encolhendo. Para alguns isso é uma vantagem, eles se adaptam à política corporativa e passam a fazer o jogo, mas esse não é o meu foco aqui, falar sobre o “sobrevivente corporativo”.

É difícil ser delicado, cauteloso, sutil, escrevemos, relemos, nos policiarmos, o que se torna uma perda de tempo criando dificuldade de comunicação, insegurança, tirando a vontade de opinar, fica o medo de como seremos entendidos, passamos a nos omitir.

Nessa situação quem perde?

Ambos, pois o profissional irá se policiar, ele sentirá medo de se expor, frustração, e a empresa estará perdendo toda a criatividade e experiência, dessa forma a chance de ter uma visão diferente para um possível problema ou uma nova ideia.

Voltando a plagiar meu amigo, "no campo de futebol não dá para chegar e falar, por favor toca a bola, seria possível…, olha desculpe você está jogando errado…"

 

E você, já viveu essa experiência?